sexta-feira, 2 de setembro de 2011

... jornadas seguidas de 5 horas com uma redução salarial de 20%...


Estou perplexo com a atitude Europeia face à crise em geral e às dificuldades dos Países periféricos em particular. Ao que parece a grave crise social que alastra na Europa ainda não é tratada ao nível que merece. O empobrecimento generalizado das populações parece ser de momento a medida mais consensual de uma Europa a 27, o que não deixa de ser estranho.
O dramático apelo à solidariedade feito pelo presidente da República e o corte de, 'rating' da Moody's foi o mais parecido que encontrei com um País que se encontra em estado de guerra mas não sabe onde está o inimigo e não encontra os aliados.
Uma grave crise social significa que rua a rua, quarteirão a quarteirão teremos de apelar ao nosso espírito solidário e não deixar cair na miséria e na fome quem mais precisa. Temos de perceber que tal e qual a economia se encontra existem pessoas a mais e empregos a menos.
Não me conformo que o empobrecimento generalizado dos povos seja a solução para a resolução das dívidas soberanas. O acordo que assinamos com a FMI, UE e Banco Central Europeu, terá de ser cumprido com rigor e sem excitação. Um estado mais pequeno e as finanças públicas controladas dão uma boa ajuda, mas uma economia que não cresce não pode pagar os juros com que nos comprometemos e esta é uma verdade aceite por todos.
O fomento das exportações nos sectores tradicionais parece ser a medida mais fácil de realizar a curto prazo já que existe alguma margem de crescimento, mas a prazo teremos de abrir os nossos horizontes a uma nova economia mais diversificada e mais qualificada.
A negociação de rescisões de contacto dos funcionários públicos com o Estado e uma diminuição do Horário de trabalho semanal transversal a toda a Europa fazendo jornadas seguidas de 5 horas com uma redução salarial de 20% parece-me ser uma medida estruturante para reconstruir uma nova economia com menores custos sociais.
Uma medida desta natureza permitiria além de diminuir o desemprego em muitos sectores, fomentar aquilo que designo por empreendedorismo com rede ou seja existiria um conjunto significativo de pessoas que para recompor o seu salário se dedicaria à abertura de novos negócios de impacto significativo na Europa. Outras pessoas, aproveitariam o tempo livre para se desenvolver pessoal ou profissionalmente aumentando a economia dos negócios do conhecimento e bem-estar, para estar mais tempo com a família, com os amigos, educar melhor os filhos ou mesmo não fazer nada. Estou certo que a prazo, teríamos na Europa uma sociedade melhor apenas com esta alteração.
Recuperar a nossa independência alimentar parece fundamental. Inexplicavelmente Portugal abandonou a agricultura quando garantidamente teremos continuar a comer várias vezes ao dia. Não teremos grandes produções, mas poderemos ter as suficientes que substituam grande parte das importações que fazemos. Alguém nos fez acreditar que abandonar a agricultura era um avanço civilizacional e nós fomos caindo no conto do vigário. As frutas, os hortícolas, os cereais, o vinho, o azeite, o leite os queijos são apenas alguns exemplos de que os nossos produtos são de boa qualidade e têm clientes.
O Turismo a par dos negócios das cidades sustentadas, têm ainda uma excelente margem de progressão e existem já marcas que podem ser aproveitadas. Algarve, Alentejo, Madeira, Açores, Lisboa, Serra da Estrela, Coimbra, Aveiro, Viseu, Porto, Douro são espaços de enormes potencialidades em negócios tão diversificados como o turismo, serviços, as compras de produtos tradicionais, os negócios criativos das artes, da moda, da cultura, do conhecimento e do bem-estar. Articulados estes espaços podem ver crescer novos negócios e atrair novas pessoas.
A Indústria tradicional Portuguesa começa a ser competitiva em diversos sectores como por exemplo no calçado. Sendo certo que nas Indústrias de mão-de-obra intensiva e de baixo valor nunca seremos competitivos poderemos dar cartas em produtos de maior valor acrescentado e onde a qualidade e/ou a moda seja factor de diferenciação. Na cortiça, têxteis técnicos, vestuário, mobiliário, ferramentas, mecânica de precisão, ourivesaria, agro-indústria, energias renováveis temos uma margem de crescimento muito relevante nos mercados Internacionais.
O mar é uma oportunidade para o aparecimento de novos negócios. Os desportos náuticos, a exploração energética, os recursos marítimos e a pesca têm ainda oportunidades económicas relevantes por explorar.
Os negócios do conhecimento, das novas tecnologias de informação e comunicação, da electrónica transparente dos novos média, da indústria automóvel e dos novos meios de transporte, os jogos e a investigação aplicada são tudo áreas que não sendo Portugal um potência mundial na área poderemos ter sempre nichos de mercado interessantes que façam florescer empresas de conhecimento intensivo.
Portugal não está condenado à miséria mas não poderá estar suportado em empregos artificiais que circulam á volta de um Estado ineficaz que se endividou e sufocou de forma inacreditável a economia. Hoje para investir em Portugal além de ser preciso dinheiro também é preciso muita paciência pois a teia burocrática em muitos sectores ainda é mais do que muita. Como diz José Gomes Ferreira é absolutamente necessário criar a via verde do investimento, tirando do caminho dos investidores praticamente todos os organismos estatais.
A mudança de paradigma vai levar tempo com a agravante da Europa não ter ainda nenhuma solução definitiva quanto à solução das dívidas soberanas. As agências de “rating” vão torpedeando a Economia Europeia à luz de critérios pouco claros. A Europa já deveria ter aberto a sua agência de “rating” com pompa e circunstância há mais de um ano. Os governos dos 27 estados membros deveriam já estar a tomar medidas mais robustas sobre a dívida soberana dos Estados e reflectir se fará ou não sentido ter um ministério das finanças comum aos estados que pertencem à zona Euro. Parece ter chegado ao fim a política do faz de conta na Europa e é necessário decidir com rapidez se o projecto Europeu continua a ser válido ou se será melhor implodir a zona euro e terminar com a moeda única. A Europa continua a meu ver a ser um projecto com sentido, mas a solidariedade ente os estados, terá de aumentar significativamente bem como a repartição da riqueza e de responsabilidades. Não é possível ter um verdadeiro bloco económico, sem uma política fiscal comum. É difícil de compreender também que existam países a desenvolverem-se a ritmos tão diversificados ou que definitivamente existam Países que estejam condenados à miséria. É evidente que também não poderemos ter políticas e governos como tivemos nos últimos anos.
Comprar o que nosso é cada vez mais um desígnio nacional, mas também seria bom neste tempo de grandes sacrifícios que se lançasse um repto à grande distribuição. Não basta vender e comprar Português, é necessário que esta relação entre a grande distribuição e as empresas Portuguesas se paute por algumas regras de maior equilíbrio e comércio justo. Repartir um pouco melhor o lucro entre quem vende e quem produz seria útil nesta fase. Pressionar completamente as margens de lucro de quem produz e obrigando muitas vezes as empresas, a trocar produtos por dinheiro com margens minúsculas, não abrindo espaço a que as empresas Portuguesas ganhem muitas vezes músculo para alavancarem a sua área de inovação, ou novos investimentos, não me parece ser um contributo positivo nem justo por parte da grande distribuição sabendo que o peso negocial está muitas vezes desequilibrado nesta relação.

Autoria: Rui Magno (6 de Julho de 2011)

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