terça-feira, 18 de outubro de 2011

A ira é má conselheira*


Certa manhã, o guerreiro mongol Gengis Khan e a sua corte saíram para caçar. Enquanto seus companheiros levavam flechas e arcos, Gengis Khan carregava o seu falcão favorito no braço — que era melhor e mais preciso que qualquer flecha, porque podia subir aos céus e ver tudo aquilo que o ser humano não consegue ver.
Entretanto, apesar de todo o entusiasmo do grupo, não conseguiram encontrar nada. Decepcionado, Gengis Khan voltou para o seu acampamento — mas para não descarregar a sua frustação nos seus companheiros, separou-se da comitiva e resolveu caminhar sozinho.
Tinham permanecido na floresta mais tempo que o esperado, e Khan estava morto de cansaço e de sede. Por causa do calor do verão, os riachos estavam secos, não conseguia encontrar nada para beber até que — milagre! — viu um fio de água descendo de um rochedo à sua frente.
Na mesma hora, retirou o falcão do seu braço, pegou o pequeno cálice de prata que sempre carregava consigo, demorou um longo tempo para enchê-lo e, quando estava prestes a levá-la aos lábios, o falcão levantou vôo e arrancou o copo de suas mãos, atirando-o longe. Gengis Khan ficou furioso, mas era o seu animal favorito, talvez estivesse também com sede.
Apanhou o cálice, limpou a poeira, e tornou a enchê-lo. Com o copo pela metade, o falcão de novo atacou-o, derramando o líquido. Gengis Khan adorava o seu animal, mas sabia que não podia deixar-se desrespeitar em nenhuma circustantância, já que alguém podia estar assistindo à cena de longe e, mais tarde, contar aos seus guerreiros que o grande conquistador era incapaz de domar uma simples ave.
Desta vez, tirou a espada da cintura, pegou o cálice, recomeçou a enchê-lo mantendo um olho na fonte e outro no falcão. Assim que viu ter água suficiente e estava pronto para beber, o falcão de novo levantou vôo, e veio em sua direcção. Khan, em um golpe certeiro, atravessou o seu peito.
Mas o fio de água havia secado. Decidido a beber de qualquer maneira, subiu o rochedo em busca da fonte. Para sua surpresa, havia realmente uma poça de água e, no meio dela, morta, uma das serpentes mais venenosas da região. Se tivesse bebido a água, já não estaria mais no mundo dos vivos. Khan voltou ao acampamento com o falcão morto em seus braços. Mandou fazer uma reprodução em ouro da ave, e gravou em uma das suas asas:
“Mesmo quando um amigo faz algo de que não gostes e não entendes, ele continua a ser teu amigo”.
Na outra asa, mandou escrever:
“Qualquer acto motivado pela fúria é um acto condenado ao fracasso”.

Fonte: “O falcão e o cálice”, lenda retirada do livro “A História Secreta dos Mongóis”.

* Provérbio português

1 comentário:

Anónimo disse...

Não conhecia esta lenda. Realmente todos os actos têm uma explicação. Por mais absurdos que nos pareçam:)